Luís
Carneiro de Sousa Girão, mas conhecido por Sousa Girão, nasceuem Morada
Novaa 3 de julho de 1877. Era filho de Leandro Carneiro Girão (Lulu),
sendo pelo lado materno bisneto do fundador da família Girão no Ceará, o
brasiluso Antônio José Girão.
Aquele que
chegou a ser respeitado pela sua sapiência jurídica, a ponto de Gomes
de Matos, um dos maiores advogados da Terra alencarina, afirmar
categoricamente: “MEU CÓDIGO É O SOUSA”. Perdeu o pai aos três anos de
idade, casando, em primeiras núpcias, com a sua prima legítima Celina
Cavalcanti, de cujo matrimônio nasceu, entre outros filhos, Raimundo
girão, considerado não só o maior historiador do Ceará, como também um
dos vinte maiores cearenses de todos os tempos.
Residindo,
inicialmente, o casal Sousa-Celina no “Retiro Novo”, o Açude Novo,em
Morada Nova, Sousa Girão, de pecuarista e criador, aliou-se ao seu tio
Porfírio Girão no comércio e na política. Ora, Porfírio era um
verdadeiro líder político e suas “altas virtudes de austeridade,
honestidade e sua bondade pessoal”, logo fizeram de Sousa Girão um
grande amigo e incondicional admirador de seu tio, a tal ponto de Sousa
afirmar, alto e em bom tom: que “mulher da família Girão não pariria
outro Porfírio”.
E o jovem
Sousa, corajoso e ativo com seu tio na liderança local, tendo como
parceiros de mesmas idéias Manuel de Castro Gomes de Andrade, Conrado
Balbino da Silva Girão, José Ambrósio da Silva, Luís Eduardo girão e
outros, pertenciam à facção dos maloqueiros, que fazia oposição política
ao governo do poderoso oligarca Nogueira Acioli, cujos seguidores eram
chamados de cafinfins.
“Em 11 de
abril de 1904, quandoem todo Estadose realizavam eleições para a
sucessão daquele governante, verificou-se forte luta armada na sala das
votações da vila, dela saindo morto o cangaceiro Manuel Bento,
acintosamente para ali trazido a fim de atemorizar os eleitores da
maloca, saindo alguns dos disputantes com ferimentos sérios; e por
milagre escapando de um tiro o Sousa, um dos elementos mais frontais e
ardorosos naquela conjuntura”.
E, para a
tristeza daquele jovem, que dera exemplo de destemor e desprendimento,
teve ele que deixar a sua querida Morada Nova, reiniciando sua vida no
mundo da política só mais tarde em Fortaleza, com a vinda de Carneiro de
Mendonça, para governar o nosso Estado, implantando a “Pátria Nova”, do
qual Sousa foi colaborador.
Sem
desfazer-se de seus interesses por sua terra natal, cuja política de
oposição na realidade era um dos que decidiam e orientavam, Sousa Girão
adquiriu um Sítio na Serra do Maranguape, no começo de 1905 e para lá se
transferiu com mulher e filhos.
Flexionando
os braços de gigantes, Sousa Girão logo refez o Sítio Guarani, situado
no cimo da serra, à custa de muito esforço e, com os produtos dele
mantinha a família.
Nomeado
Escrivão do Crime, Júri e Execuções Criminais de Fortaleza, por título
de 27 de outubro de 1913 e assinado pelo Presidente Coronel Dr. Marcos
Franco Rabelo, Sousa Girão transferiu-se para esta Capital. Trazendo sua
inerente disposição de ter os braços sempre em movimento e com o seu
cérebro privilegiado, dentro de pouco tempo, Sousa recuperou o Cartório
que encontrou “em estado de desalinho e com os serviços todos em
atraso”. Além de se tornar um oficial plenamente capaz, consultado que
era, inclusive por advogados, sobre problemas concernentes à
processualística criminal, Sousa amava o debate das questões ocorrentes
no Cartório com Juízes e Promotores. Tinha o prazer da consulta das
velhas leis estaduais e dos livros esgotados de doutrina, numa época em
que cada Estado tinha suas próprias leis processuais (o Código
respectivo ainda não era sistematizado). Gostava de esclarecer, como
frisou Albano Amora, aos novéis bacharéis, sem malícia e com um jeito
antes de diplomata do que de mestre-escola, e, às vezes, ensaiava longos
artigos sobre a praxe forense. Advogado provisionado que era pelo
Tribunal de Justiça, sempre que podia rabulava também.
“Meu código é o Sousa”, dizia Gomes de Matos, um dos grandes advogados que militavam no Fórum de Fortaleza.
Quando de
aposição do retrato de Sousa Girão numa das salas do Fórum, Albano
Amora, em frases lapidares, descreveu o escrivão homenageado como homem
sumamente extraordinário, inteligente, de notável saber jurídico, hábil,
trabalhador simples, amável e incapaz de trair a dignidade humana por
amor ao dinheiro. De fato, Sousa Girão convivia com os humildes sem ser
para com eles insolente; podia estar perfeitamente no meio dos ricos e
poderosos, sem a sujeição abjeta daqueles que sobem por favores e, acima
de tudo exercia as suas relevantes atividades sem nunca lamear a sua
consciência ou sujar as suas mãos.
Sousa não
se limitava a mandar, ia fazer. A sua residência parecia um consulad9o
de aflitos e asilo de doentes, vindo de Morada Nova, sua terra natal,
pela qual se desdobrava, Maranguape e de muitas partes. Era hábito seu
curar feridas de enfermos, parentes e pessoas estranhas. “Anonimamente
praticava a verdadeira caridade, numa missão celestial de fazer e dar
sem intenção de recompensa, nem de agradecimento, numa suprema expressão
de Amai-vos uns aos outros. É São Francisco de Assis, é São Vicente de
Paula, é Santo Agostinho… Nunca negou”.
E, assim,
foi Sousa Girão que, sem jamais ter freqüentado uma escola de Direito,
chegou a ser respeitado pela sua sapiência jurídica. Segundo o
jornalista Blanchard Girão, Sousa, como seu filho Raimundo Girão, era
uma estrutura de dignidade e inteligência gigantesca. Merecidamente,
atingiu este protótipo da família fundada por Antônio José Girão, no
campo do saber jurídico e no reino da bondade, as culminâncias próprias
das águias, sem nunca renunciar a simplicidade dos vales da vida
sertaneja, cujas origens nunca se afastou.
E Sousa
Girão fechou os olhos para sempre, mas, antes de soltar o seu último
suspiro, Sousa, segurando as mãos de sua segunda esposa – Mariinha, e
sob o olhar angustiado dos seus filhos, pediu: “Enterro mais simples do
mundo, muita união”. Transcorria aquele triste 15 de julho de 1945.
Pelo que
se sabe, através de Raimundo Girão, os filhos, cumprindo-lhe a
determinação derradeira, são realmente uma irmandade integralmente unida
com a solda do seu exemplo e da sua saudade”.
(Fonte: Livro Família Girão- Guilherme Girão)
(Fonte: Livro Família Girão- Guilherme Girão)
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